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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Festas de final de ano são eventos patológicos

 

Festa clandestina em Manaus. Foto: UOL


Mal comparando, a pandemia do coronavírus é como uma avalanche. Cada pessoa representa uma pedra. Se infectada, ela desliza por um penhasco, e vai contaminando outras pessoas. Esse movimento, quando foge ao controle, soterra o sistema de saúde, provocando mortes. É contra esse pano de fundo fúnebre que proliferam por diferentes pontos do mapa do Brasil grandes celebrações de final de ano. Pessoas se reúnem às centenas para dançar, comer, beber e se infectar.

Convites são comercializados na internet com inusitada transparência. Flagrantes de grandes aglomerações inundam as redes sociais com hedionda naturalidade. Não bastasse a pandemia, o Brasil enfrenta surtos de insensatez. O grande problema é que a imprudência dos insensatos infecciona a precaução dos cuidadosos. Nenhum ser humano tem domínio sobre a vida e a morte. O nascimento é uma contingência. O funeral, uma fatalidade. O segredo da existência está em saber usufruir da transição entre o útero e a sepultura.

A vida se torna muito mais agradável e divertida quando conseguimos combinar a liberdade de fazer escolhas com a responsabilidade pelas escolhas que fazemos. Quem vai a uma grande festa em plena pandemia exibe a sensibilidade de uma pedra que não se sente responsável pela avalanche que provoca. E cada vez que alguém imagina que a crise sanitária não é seu problema, essa atitude individual magnifica o problema coletivo.

Quem enxerga neste ocaso de 2020 razões para participar de festejos coletivos empurra com mais força para dentro de 2021 uma avalanche que abarrota os hospitais, tira o sono dos profissionais da saúde, sobrecarrega os coveiros e dilacera a alma dos familiares e amigos dos quase 200 mil mortos que a Covid já produziu no Brasil. Se a sociedade brasileira já estivesse sendo vacinada, as festas seriam focos de irresponsabilidade. Numa quadra em que faltam ao Brasil, além de vacinas, também as seringas, a celebração é um evento patológico.

Josias de Souza

Fonte: “uol”

terça-feira, 30 de abril de 2019

O lumpesinato no poder - Bolsonaro,100 dias

Morte de farda, Foto de Geiler Tod

O principal representante do lumpesinato nas esferas do poder é o próprio presidente da República. Expulso do Exército por indisciplina, Jair Bolsonaro buscou a carreira parlamentar como meio de vida. Em 28 anos de Congresso, teve atuação apagada e agregou-se ao chamado baixo clero da instituição.
Bolsonaro nunca representou um setor social específico, mas surfou em ondas de insatisfação difusas do eleitorado pobre do Rio de Janeiro e no corporativismo da massa militar. Seu mentor, Olavo de Carvalho, sujeito sem ocupação definida, é um lúmpen da intelectualidade, misto de astrólogo e guru de vasta legião conservadora. Damares fez sua carreira nas igrejas pentecostais e não se sabe de seus vínculos claros com o mundo formal do trabalho. O mesmo se dá com outro ativista pentecostal, Marcelo Álvaro Antônio, chefe da pasta do Turismo. Vélez Rodríguez, por sua vez, é um obscuro professor universitário, sem publicações relevantes e desconhecido em seu meio. Araújo expressa uma ínfima minoria no Itamaraty.
O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, é um economista marginal, tanto na academia quanto no mercado. Pérsio Arida, um dos criadores do plano Cruzado (1986) e ex-presidente do BNDES e do Banco Central no governo FHC, tem opiniões arrasadoras sobre ele. Em setembro de 2018, Arida declarou ao jornal O Estado de S. Paulo que “Paulo Guedes é um mitômano (…). Nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo e tornou-se um pregador liberal. (…) Ele nunca dedicou um minuto à vida pública, não tem noção das dificuldades. Partiu para uma campanha de difamação que é de um grau de incivilidade que não se vê em outro assessor econômico”. Envolvido em acusações de fraudes em fundos de pensão, Guedes pode ser classificado sem erro como um lumpenfinancista.
Entre os militares, o astronauta Marcos Pontes foi para a reserva após seu voo orbital em 2006. Tornou-se palestrante de autoajuda, vendedor de travesseiros e guia turístico na Flórida. Ou seja, passou a viver de expedientes que não deram muito certo até ser recolhido por Bolsonaro.
O PSL, partido do presidente, por sua vez, é quase todo composto por aquilo que Marx classificou como lumpesinato no Dezoito brumário: “Rufiões decadentes, com meios de subsistência duvidosos (…), rebentos arruinados e aventurescos da burguesia (…) vagabundos, soldados exonerados (…), trapaceiros, (…) donos de bordel, (…) em suma, toda essa massa indefinida, desestruturada e jogada de um lado para outro, que os franceses denominam la bohème [a boemia]”.
Qual o problema de um governo ser dirigido pelo lumpesinato de diversas classes?
O lumpesinato, por característica inata, é avesso a qualquer projeto coletivo de longo prazo. Não é classe, não é coletivo, não forma grupos. Não há previsibilidade ou rotina possível em um conjunto de indivíduos para os quais vigoram as saídas individuais e a disputa de cada um contra todos.
Pode-se afirmar que o lumpesinato vive no Estado de Natureza conceituado por Thomas Hobbes, em Leviatã (1651). Trata-se de uma situação anterior à criação do Estado, sem regras ou normas, em que “todo homem é inimigo de todo homem”.
Nas palavras de Hobbes: “Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta”.
Não há descrição mais apropriada para um mundo traçado por Jair Bolsonaro em discurso proferido para uma plateia de extrema direita em Washington, em março último: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa”.
Não se trata de deslize de um improviso mal feito. Hamilton Mourão já havia declarado ao jornal Valor Econômico em fins de 2018 que o governo faria “um desmanche do Estado”.
São frases-síntese de um governo lúmpen que se move por pequenos e grandes negócios de ocasião. Em geral, eles se dão por fora da política institucional e de suas regras e, não raro, apelando para situações de força. Uma administração de todos contra todos.
*Gilberto Maringoni e Artur Araujo
Especial da edição digital de Le Monde Diplomatique Brasil
10 de Abril de 2019

Meu comentário:
Depois de muita besteira escrita pela esquerda lulo-petista enfim uma excelente análise do governo Bolsonaro. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Por um coração jovem na política de Búzios

José Carlos Alcântara, perfil do Facebook
É justa a indignação dos eleitores com os partidos e políticos que governaram Armação dos Búzios até agora. Eles representam uma forma de fazer política ultrapassada, que é presa a uma proposta de carreirismo: ou seja, de fazer da política, uma profissão para a vida toda. Em regra são uns burocratas, que só querem privilégios pessoais, no máximo para um pequeno grupo de apaniguados. Candidatos que eram a esperança de uma geração que construiu a cidade e nasceram contra essa perspectiva, logo aderiram a ela, ao se tornarem administradores totalmente inseridos no sistema.
Este tipo de comportamento foi se desenvolvendo de forma progressiva e acabou se cristalizando na certeza de que o campo político é deles e que a organização da sociedade é absolutamente desnecessária. É preciso partir desse ponto, para se entender como se pode consolidar uma nova forma de se fazer política aqui, com uma ampla mobilização social e a organização dos jovens, moradores e trabalhadores de todos os bairros e comunidades de Búzios.

É preciso mostrar a todos o que realmente pode diferenciar um programa de governo com novas propostas oferecidas para a sociedade. Se hoje, a política local vai de mal à pior, ela é fruto do que foi e do que não foi feito, por quem está e esteve no poder ao longo desses vinte anos de emancipação. Quais foram os governantes que até aqui não aderiram ao padrão de governar, basicamente, para beneficiar parentes, amigos e empresários? O quinhão do povo ficou sempre sendo as sobras.

Apenas uma nova geração poderá fazer uma opção política distinta e se identificar com um novo programa de mudanças transformadoras, que possa modificar o destino da Cidade. Essa é a única forma de mudança, a partir da qual será possível se construir um governo efetivo e representativo de todos os segmentos da população de Búzios, e não as discussões requentadas e obsoletas de velhas e arcaicas lideranças.

Esse sentimento apartidário e mesmo anti-partidário, é muito comum hoje em dia entre os jovens. Ele é motivado pela experiência negativa que a juventude tem com os partidos políticos, que ‘dão ordem’ e com as antigas orientações de direções partidárias, que hoje governam em aliança com todo tipo de políticos corruptos e desacreditados. Esse é o caso dos partidos e políticos, com seus acordos e contratos negociados com os representantes da velha política.

O coro dos “sem partido” é progressivo e ele pode significar uma recusa à participação política, à luta política. Mas, isso é um perigo real, que é preciso ser combatido e, o melhor caminho para atrair esses jovens à política partidária, é demonstrar que há partidos que podem ser diferentes, se eles mesmos agirem de acordo com programas de governo que forem discutidos e elaborados por eles.

O melhor caminho para isso, é provar aos jovens que se interessam por política, que os partidos não servem para acumular cargos nas instituições, mas sim para organizar as manifestações, para lutar pelos direitos e as necessidades reais de mudanças que beneficiem os moradores da cidade e que possam trazer uma nova proposta de desenvolvimento econômico para o município.

É preciso integrar a política com a tecnologia. É muito importante, inclusive, mudar a linguagem da política. Os partidos precisam pensar numa nova maneira de formular sua didática para lidar com a juventude e minimizar essa tendência da linguagem do jovem não ser compreendida pelos partidos. Pois, manter na direção dos partidos uns dinossauros, que não largam o osso nunca, faz com que seja impossível esses políticos entenderem o que a nova geração está propondo para a cidade.

É preciso votar com consciência social, discernindo o que é melhor para o município, mas sobretudo votar com o coração, com a sensibilidade e com o senso de justiça, para enxergar o sofrimento dos pobres que mais precisam do serviço público. Este é um direito e uma obrigação dos jovens que começam a participar da política. Não apenas das eleições, mas também da organização de grupos para debater sobre o futuro que queremos, com um coração novo e jovem na política de Búzios.

José Carlos Alcântara

Comentários no Facebook:


  • Ricardo Guterres Estamos precisando urgentemente deste tipo de pessoa no comando da cidade......chega desta politicagem barata e da corrupção desenfreada.......
    Curtir · Responder · 22 h
  • Thomas Sastre a campanha pode ser assim :musica de Gilberto Gil ,,domingo no parque ,,olha a faca ,,olha a faca ,,olha a faca ,,



sábado, 19 de julho de 2014

TUDO PELO BEM DE BÚZIOS

Thomas Sastre
Quem poderia imaginar que nos anos 70 em plena ditadura, um vilarejo de pescadores, praias desertas, paraíso para todos, uma pequena comunidade de poucas famílias, poucas casas de veraneio, e com um acesso difícil de se chegar do Rio de Janeiro:- sem nenhuma infraestrutura... Ricos brincando de pobre, pequenos aviões que desciam numa pastagem perto da praia de Geribá e que onde hoje é a Marina, se poderia viver e desfrutar de harmoniosa convivência entre nativos e visitantes.

E era uma alegria se viver com simplicidade.

Estou me referindo à Aldeia de Armação dos Búzios...Virar assim rapidamente um caldeirão político em plena Democracia, apenas por um néscio e contraditório poder.

Escrever certos pensamentos, evita estar em depressão constante, acalma o medo de que as pessoas se cansem da democracia, joguem tudo de vez num buraco: e o último a sair que apague a fogueira...

Um estado deficiente, partidos políticos que não se entendem. Toda esta deficiência dá origem a um poder paralelo: que nem sempre é dentro da lei.

Sem nenhuma perspectiva, por falta de assessoria e de cultura política transparente, incentivados por políticos que na maioria das vezes, ou por não saber exercer sua função ou pouco se importando com as críticas dos opositores, prefeito e vereadores acreditam que podem criar um poder paralelo que lhes dê segurança, sem medo algum, e que com estas atitudes se cria uma sociedade catatônica, paralisada, lesada.

Na maioria das vezes a sociedade recorre ao judiciário para questionar licitações aprovadas em beneficio próprio, mas são distorcidas em defesa, como um ¨Bem¨ para a população, alegando seu status e respeito de autoridade.

A partir da emancipação, Armação dos Búzios carregou em seu curriculum político, uma lista de vereadores, prefeitos, secretários, condenados pela justiça.

Em sua defesa a mesma estória: tentam provar que agiram assim pelo ¨Bem¨ da cidade.

Fazendo uma análise mais profunda sobre o sentido do Bem, o escritor russo Fedor M. Dostoievski descreve em sua obra literária ¨Crime e Castigo¨ o questionamento do que será o Bem e o que será o Mal!
Não tinham muitos daqueles condenados a cárcere revelado que haviam agido por mal; não tinham mostrado a necessidade imperiosa em que se sentiram de praticar determinado ato, considerado delituoso pela urgência de remover certos obstáculos imprescindíveis à própria existência.  E não se mostravam criaturas tão superiores e compreensivas, e, foram julgados como tal. Poderia ter sido um ¨Bem¨ concorrendo para o equilibro da ordem humana....

A história se repete ao querer estar sempre removendo certos entraves, deturpando a interpretação da lei.
O desentendimento entre o prefeito e seu vice que tomou conta dos noticiários policiais do País é bem sugestivo para entender como se interpreta politicamente o Bem da cidade.

O prefeito viaja e não quer o vice ocupando sua cadeira, recorre aos vereadores de sua bancada que lhe dão plenos poderes a ponto de atropelar a constituição, em sua defesa pelo ¨Bem¨ da cidade.

Assessores e vereadores a serviço do prefeito com suas mentes cheias de leitura mal digerida, vendo-se em situação precária, raciocinam da seguinte forma: o vice não pode assumir, apesar do judiciário ter dado parecer a seu favor, o que fazer? A população, jornais e o judiciário a favor da Democracia querem que se cumpra a lei.
Já que não podemos tirar proveito desta situação, só nos resta desacreditá-lo, tudo depende de um gesto; uma pedra no caminho, a justiça, mas nós somos mais fortes, temos o poder em nossas mãos.

Confundiremos a justiça, atacaremos sua integridade desacreditando-o e estará o fato consumado. Agimos como os fortes, como os conquistadores. Pois, enquanto não está dando certo, a lei está do seu lado.

Começa o suplício, o remorso, o arrependimento? NÃO, ninguém se arrepende, eles acreditam que estão fazendo para o ¨Bem ¨da cidade.

O que os afligem é a ideia e a incerteza dos motivos pelo qual agiram assim, a ponto de querer mudar a constituição vigente no País.

Seria mesmo visando o Bem que praticaram o Mal para experimentar a própria força?

O governo não consegue mais justificar-se perante a sua consciência. Teoricamente estava tudo certo mas a teoria falhou na prática.

Quando o propósito é destruir a reputação foram obrigados a mudar de tática. Procurar na secretaria de Meio Ambiente algum crime relacionado ao vice prefeito e encontrar alguma prova para acabar de vez com sua credibilidade.

Nesta luta contra o tempo se está vendo que o plano pode dar errado de novo. Acabam se desconcertando, e quem presumia ser um super-homem, está se transformando em joguete das situações.
A vida no seu curso vertiginoso e inconsciente escapa à toda logica.

Quando se pretende fazer o Bem, vem-se a fazer o Mal, e um crime determina outro, num desencadear incorrigível de forças.

Não teria acontecido o mesmo com tantos conquistadores e governantes que perderam seu poder pela avalanche que eles mesmos provocaram.

Assim o governo vai ter que compreender que na verdade não há super-homens, todos são mesquinhas criaturas escravas da condição humana.

Se quiseram valer-se arbitrariamente, como se não bastasse este desgaste político, e recentemente apresentaram proposta para mudar o gabarito da lei do uso do solo, para beneficiar um sujeito inescrupuloso. A Câmara retirou de pauta esta aleivosia.

Está se perdendo a partida, esforçam-se para abafar por meio do raciocínio a revolta da consciência.
Insistem na certeza de que afastando o vice prefeito não estão cometendo crime algum. Mas isto não lhes basta para libertá-los do sentimento de culpa.

Atraídos por uma espécie de imã irresistível, até suscitar a desconfiança do judiciário.

O Juiz, senhor da situação, prevê matematicamente que aqueles tristes seres humanos acossados pela consciência, se retratarão perante a opinião pública, quiçá motivados pelo evangelho à procura de paz e aí entenderão que quando pecamos contra a lei moral destruímos as nossas vidas.

É preciso sofrer e curvar-se ao castigo. Só a penitencia resgata a culpa e poderá salvar os que se encontraram com Deus.

Viria o prefeito, a ter a revelação de seu destino cristão, convencendo-se afinal que na sua derrota estava sua vitória.

O romance terminou, o debate filosófico ficou em suspenso; tentar afastar o vice prefeito com intrigas de romance policial, tentar mudar leis municipais para beneficiar a vaidade de gente que visa seus próprios interesses; querer caçar o mandato de vereador, me parece que é uma forma primária de uma ingenuidade terrível.

Aqueles eleitores que apostaram em mudanças, continuam assistindo os mesmos vícios dos governos que passaram.


Como diz Rita Lee em sua música, jocosamente falando, TUDO VIRA BOSTA.

Thomas Sastre

terça-feira, 22 de abril de 2014

APRENDA COMO MONTAR UM JORNAL EM BÚZIOS

Pequeno Jornaleiro, foto do site rioquepassou
Em Búzios, a boemia teima em conciliar-se com os ares saudáveis da praia. Corpos bronzeados dividem a paisagem com outros que nem se aproximam da areia, acotovelados no balcão dos bares, bebendo e papeando.Já era assim há 32 anos, quando a cidade passou a conhecer o primeiro jornal de Armação dos Búzios- O PERU MOLHADO- um jornal que cresceu nesse recanto entre o Centro da Cidade e o Mar. 

Num ritmo espontâneo, simples e festivo, que não podia resultar em outra coisa: a materialização e o estilo artístico deste jornal. Analisando visões não tão singelas quanto as que encantavam há 20 anos passados.
Um certo ar de decadência permeia as tardes Buzianas...um conhecido ex político, recém saído da praia e sem camisa, estaciona o carrão em cima da calçada. Sem sucesso o guarda municipal tenta convencê-lo que o lugar não é o mais adequado, ao mesmo tempo, do outro lado da rua, uma veterana atriz de novela cambaleia com um copo na mão ,balbuciando ideias vagas no celular. A seguir, um  grupo de empresários à procura de um negócio, ciceroneados por políticos, para ver se levam alguma vantagem na compra de terrenos  ou  legalização de futuros empreendimentos. Na praça do Centro da Cidade,  argentinos e chilenos começam a cantar e a tocar guitarras e pandeiros. Europeus loiros, pele branca castigada pelo sol, rebolam e depositam notas em uma cesta, pronta para coletar dinheiro.  

Quando todo este circo é registrado... Na sexta-feira a ansiedade de todos para ver seus retratos, fazendo caras e bocas, seus 5 minutos de fama no jornal O Peru Molhado. Neste atrativo, interesses políticos  incentivarão a montar outros jornais. Em Búzios, quando alguém se aborrece politicamente, e quer desacreditar, esculhambar, fazer intrigas ou promover-se, cria  um novo jornal. Não se noticia absolutamente nada, se copiam uns  aos outros.. Quando caem de pau em outro jornal, referem-se a ele assim: um certo tabloide publicou que fulano enganou sicrano e era cúmplice de beltrano. Um estilo policial, mais para boletim de ocorrência do que para jornal.  

Porque essa obsessão em querer montar outros jornais em Búzios... Isso se deve ao fato de compensar o atraso cultural da cidade, será... Já que somos histórica e hereditariamente ignorantes ... O Brasil foi o penúltimo país do mundo a conhecer a imprensa... Chegou aqui com a família real portuguesa em 1808, enquanto no México e outros países da América do sul já existia desde meados do século XVI.

 Há trinta e três anos fui testemunha do primeiro jornal de Búzios. Acompanhei e vi proliferarem outros ...
Isto me deu experiência. Acredito, por isso, estar capacitado para ensinar como montar um jornal ou revista em Búzios.

A primeira parte: Qual é a linha do jornal que você quer fazer...

Vamos escolher o nome. Se quer que seja bizarro, pode ser...  GATO ESCALDADO . Se quiser expor  suas críticas, O BAIACU. O nome diz tudo, peixe conhecido na região por seu veneno. Se procura um estilo ecologista, O JARDIM DAS DELICIAS. Se for linha populista, O REGIONAL, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, O OPERÁRIO BUZIANO... Estes nomes dão um certo clima social. O nome do jornal deve estar sempre acompanhado de frases tipo “Este jornal só diz a verdade”, “Um jornal que busca credibilidade”, “O povo quer saber a verdade”. Estas frases demagógicas funcionam muito bem .

A segunda parte: Como manter o jornal e se manter.

Procure um restaurante e uma lanchonete. Atenção. Elas têm que ser novas, porque as antigas O Peru Molhado já detonou. Veja se tem movimento. Bajule o dono. Fale bem do negócio. Faça com que eles estejam sempre em evidência  e ai garantirá sua comida diária...Se tiver uma colunista não deixe que ela atrapalhe seu rango. Para não dar bandeira, faça um aperitivo antes para dissimular na hora de comer. Sua sobrevivência estará garantida até o dono ficar de saco cheio. Procure um senhor aposentado com certa credibilidade para falar de coisas amenas. Escolha um padrinho político com grana, deixe-o escrever qualquer estupidez. incentive-o. Faça-o crer que vai estar sempre ao lado do poder.

A parte mais difícil é como conseguir o anúncio da Prefeitura que é o que irá garantir a impressão da gráfica. 

Descubra um funcionário público, aquele que sopra e morde. Figura conhecida  que não esteja satisfeito com o governo.  Faça uma matéria expondo os problemas mas de leve. Quando tentarem falar mal do prefeito, recue. Faça-se de ofendido. Esta aí a isca para pescar o anúncio. 

Esteja em todas as festas e tire fotos dos emergentes. Procure fazer com que eles sejam retratados ao lado de políticos para dar mais credibilidade e vender as fotos por fora.

A parte religiosa e fácil: copie alguns Salmos e convide qualquer pregador para assinar.

Como hoje tratar de assuntos ecológico dá Ibope, procure um cara bem chato e deixe-o à vontade. Ele tem que ser contraditório e radical. Um sujeito que agrade as famosas Balzaquianas reclamonas  da cidade. Ai você terá um perfeito ecologista cara de pau. Mas preste bem atenção no texto antes de publicar. Se ficar se lamuriando o tempo todo que está faltando verde, que o verde está acabando... Cuidado... O leitor pode interpretar que está se referindo ao verde Americano. 

Elogie sempre quem tem grana. Concorde e diga que ele sempre está certo. Fotografe-o com a família... Essa técnica deve ser muito usada. Ai você vai ver como pingam uns trocados. Como um almoço de domingo.

Quanto a parte sensual,  sempre que fotografar uma mulher de biquíni ou semi-nua certifique-se de que ela não tenha noivo, marido ou amante. E muito perigoso. Você pode correr o risco de levar uns tapas. Ou ir parar no hospital. Fatos já acontecidos, com fotógrafos e editores...

Quanto a Revistas é muito mais fácil. Basta tirar fotos bacanas das praias, usar alguns textos lights, puxar bastante o saco do Secretário de Turismo e coloca--lo sempre em evidência. 

Finalmente, procurar uma associação e divulgar o seu trabalho. Como é mais econômico que gastar em folder, a revista terá sua distribuição paga e garantida, ainda irá parar em todos os eventos. Peça para seus amigos que elogiem bastante seu trabalho. Mande e-mails com nome falsos de outras cidades.

Depois de seguir estes requisitos  você se tornará um novo  CHATEAUBRIAND. De Búzios...Bem vindo à imprensa local...Boa sorte...

THOMAS SASTRE

Comentários no Facebook:


  • Tayrone Floresta ...DEPOIS DE RELER...SÓ NOS PERMITIMOS CONCORDAR ! COM PARTE DO TEXTO...POIS SE FOSSE O ESCRITOR REGISTRAR O QUE VIU E SABE...EU SABEREI QUE NADA SEI ...!
  • Luiz Carlos Gomes Tayrone, o texto não é meu. É do Thomas Sastre.
  • Miguel Antonioli gostei muito do texto.
  • Isac Tillinger Concordo com quase tudo. Mas lamentavelmente devo admitir que enquanto não houver anunciantes que possibilitem o jornal ser sustentável sempre haverá que ser financiado por alguém, e geralmente o retorno que este investidor quer não é republicano. Afinal o jornal é distribuído gratuitamente, e sem venda de exemplares e sem anunciantes não dá.



terça-feira, 1 de abril de 2014

A imbatível arma para anular uma pessoa

Thomas Sastre, foto do Facebook
O pior dano que se faz a uma pessoa é dar –lhe de tudo e mantê-la como parasita na base de pão e circo.

Quem quiser anular alguém é fazer dela um dependente a outros,  evitando de pensar e de ter seu próprio esforço, impedindo-a de trabalhar e que enfrente os problemas ou as possibilidades de cada dia e que tenha que resolver dificuldades. Dê-lhe tudo e de bandeja: bolsa família, salario desemprego, bolsa crack, comida e diversão.

Assim se poderá evitar que ela use todas as suas potencialidades.

Esta técnica de alienação fará que se evite de procurar recursos que desconhece, sendo alijado de sua criatividade. Quem vive de mimos (presentes) de políticos ou do patrão o tempo todo se anula como pessoa, se volta preguiçosa, aniquila-se a si mesmo. É como um tanque d´água que por falta de iniciativa apodrece o conteúdo.

Aquele sistema de governo que se diz pelo amor, é demagogia. Sistematicamente estão fazendo de tudo para manter o povo a uma submissão sem limites, podendo ser churrascos, cestas de comidas, material de construção, e outras demandas. Este tipo de gente que aceita em troca de servi-lo cegamente passa a ser mais pobre entre os pobres.

E uma das caras da miséria humana é carecer de iniciativa, não aproveitar os instintos, a potencialidade latente, capacidade com que estão dotados quase todos os seres humanos.

Quem vive a vida toda de assistencialismo, se transforma em um indigente, porque assume a posição de vítima e se passa reclamando, quando não recebe. Passa a acreditar que todos tem a obrigação de dar de tudo em suas mãos, considerando-se estar em desgraça para ter ou querer fazer um trabalho digno.

É muito complicado para quem vive a vida toda assim, recebendo tudo de bandeja, que algum dia queira converter-se em alguém útil para si mesmo ou para a sociedade. Exigiria que todos à sua volta sejam responsáveis de fazer com que viva bem, e, culpa os demais por sua própria desgraça.

Os sistemas de assistencialismo político, quanto mais despóticos são, mais impedem que os seres humanos passem a desenvolver sua potencialidade de vida e construir sua própria cidadania.

Às vezes as secretarias sociais acreditam que estão fazendo sua parte, distribuindo alimentos ou dinheiro e que estão fazendo bonito. Mas a realidade é outra, em definitivo estão usando uma arma para anular as pessoas e transformá-las em pobres de pobreza. Isto não quer dizer que a caridade de uma ajuda temporária, não seja necessária em momentos especiais.


Enquanto o pão e circo continuar como remédio para a população, para melhor governar, vai aumentar as hordas e legiões de analfabetos funcionais submissos à espera de que o governante jogue um qualquer para servi-lo....   

Thomas Sastre